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Paixão e consciência
Paixão é uma coisa muito séria, onde a passividade não tem espaço e passa como um furacão, afetando tudo que se interpõe em seu caminho. O inferno astral que vive o Corinthians nesses últimos dias mostra que paciência tem limite e quando testada pode culminar em desfechos nem sempre bem-vindos ao time em questão. O torcedor deixou de ser bobo há muito tempo e os últimos acontecimentos são puro reflexo do que a diretoria vem fazendo, ou melhor, que vem deixando de fazer.
O time de Parque São Jorge está desfigurado tática e tecnicamente, tentando procurar, em vão, a identidade de seu futebol, perdida em campo de jogo, há um bom tempo, talvez desde a saída de Elias para o exterior. Insistir com Ronaldo, que foi um dos maiores jogadores do mundo, um fenômeno, mas foi! Hoje, não passa de um conto de fadas e de gosto duvidoso, pois além de estar em fim de carreira, ostenta umas arrobas a mais que o engessam durante uma partida, por mais que o adversário seja fraco. O corintiano deu um voto de confiança ao (ex) craque, que veio ao time mais por uma sacada de marketing que rendeu e ainda rende uma boa grana aos cofres do clube. Ronaldo e seu nome não devem nada ao Corinthians que já recuperou cada centavo gasto em sua milionária contratação e ainda some os dividendos posteriores de uma transação muito bem feita. Mas, o atleta, pelo astronômico salário que recebe mensalmente, e o clube, estão devendo e muito aos apaixonados e alienados torcedores alvinegros que passaram a ser alvo de chacotas e piadinhas infames, geradas pelas torcidas rivais que encontraram no episódio, um vasto celeiro de piadas. Analisando uma faixa estendida esta semana no CT do Corinthians dá pra se ter uma idéia de como o clima anda pesado, desculpem o trocadilho, bem mais pesado que Ronaldo: “Corinthians, entrada de R$ 500,00 e futebol de R$ 1,99.”
Torcedor amigo, já passou da hora de nosso futebol deixar de ser amador em sua administração, não cabem mais desmandos de ditadores de quarteirões, é preciso a exemplo do elenco, se profissionalizar, amealhar gente competente, dedicada e com visão para tocar nosso esporte bretão, que hoje, está mais que falido. Hoje, qualquer cabeça de bagre ganha um salário alto e convenhamos muito para o futebol que apresenta, sem contar com os chamados craques que faturam milhões de reais mensais e dão em troca o total descaso e a falta de amor pela camisa do clube da vez. Eles desconhecem que a camisa que ora vestem, além de símbolo máximo de um clube é a alma do torcedor sofrido e que faz malabarismos pra conseguir ter o prazer de minutos, de ver jogar seu time do coração. É preciso respeito, principalmente para o torcedor, ele merece muito mais que isso. Não basta ter cilos repletos de novos craques, é preciso saber formá-los, investir profissionalmente na formação de novos patrimônios e exportá-los oportunamente proporcionando suportes técnicos eficientes para dar continuidade ao trabalho de renovação e oxigenação de nosso rico, mas abandonado futebol.
È preciso ter os pés no chão e trabalhar com nossa realidade econômica, sem fazer loucuras. A massificação da repatriação de craques em fim de carreira do exterior é apenas uma forma eficiente de desviar o foco dos problemas pertinentes que são, na maioria das vezes, empurrados pra debaixo do tapete que já não tem mais espaço pra tantos amadorismos e ingerências, pois a maioria de nossos clubes brasileiros estão endividados. O reflexo é claro e evidente e só não vê quem não quer ver. Não se iludam com a chegada desses craques, suas promessas de amor eterno ao clube contratante e aos seus altíssimos vencimentos que fogem literalmente de nossa realidade verde-amarela. Uma pergunta que não quer calar de onde sai tanto dinheiro para abastar essas mirabolantes contratações?
Bem administrado, o futebol pode apresentar cifras significativas e ótimos dividendos, mas a palavra de ordem é organização aliada a uma boa planificação, um exemplo clássico a ser citado, o fenômeno espanhol chamado Barcelona, onde o amadorismo e a mediocridade nunca terão espaço. Sem dúvida, uma instituição a ter seus passos seguidos, dentro e fora das quatro linhas de jogo. Dê uma rápida pesquisada no time catalão e tire suas próprias conclusões.
O torcedor tem de ter sempre um papel decisivo neste processo de mudança, exigindo seus direitos, cobrando veemente seus jogadores, cartolas e protestando sem violência, fazendo valer o Código de Defesa do Consumidor, uma poderosa arma, quase sempre esquecida pelo cidadão que frequenta as inúmeras arquibancadas deste nosso imenso país. É preciso despertar, primeiramente no coração de cada um a consciência, a razão, que deverá viver harmoniosamente com a paixão louca e desenfreada. Seja eternamente apaixonado por seu clube do coração, mas seja um torcedor bem consciente de seus direitos e deveres. Se cada um de nós der um pequenino passo, com certeza estaremos contribuindo para a melhoria de nosso futebol pentacampeão do mundo e quem sabe esse desejo utópico se torne realidade num futuro a médio prazo.
Roquemberg Duarte é Jornalista e Radialista
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