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Bertinho, o grande genio

01-12-2010 16:15

Bertinho, vem pra cá brincar com seus irmãos e teu pai reclama que andas muito sozinho a perambular pela casa. Que tanto pensas pelos quatro cantos, parece que estais a descobrir alguma coisa nunca vista antes. Papai adorou seus aviõezinhos movidos a elástico, sucesso total pela vizinhança. Bertinho em silencio, falando com os próprios botões...Papai tem mais com o que se preocupar, pois estamos na alta da safra do café e falta mão de obra, e além do mais somos em dez irmãos, talvez nem se lembre que eu exista. Tenho orgulho de ser filho de engenheiro, construtor de ferrovias e um dos maiores cafeicultores de Minas Gerais e de nossa Palmira, terra em que vim a este mundo, e onde ficava a nossa Fazenda Cabangu.

Mal sabia ele que poucos anos mais tarde, seria motivo de alegria da família ao pilotar as locomotivas de seu pai, que mesmo sem ele saber acompanhava com grande interesse seus passos, desde quando abandonou, ou melhor, trocou seu berço pela sala e sua aconchegante lareira, onde adormecia ao som das cantigas de sua mãe ou se entorpecia pelas belas estórias lançadas pela boca de seu pai. A que mais gostava de ouvir eram as proezas das obras de Julio Verne. Sonhava em passar cinco semanas em um balão, e porque não, 80 dias voando pelo mundo, viajar ao centro da Terra ou descer vinte mil léguas submarinas. Mas, segundo papai, as estórias de Verne eram recheadas de muita ficção: Verne versava sobre a televisão, o helicóptero, o cinema falado, a iluminação a neon, o ar condicionado, os arranha-céus, os tanques de guerra, os misseis teleguiados, os veículos anfíbios, o avião, as aventuras submarinas, o aproveitamento da luz solar e da água do mar na geração de energia e assim por diante. Bertinho sonhava com essas possibilidades e a visão de um mundo melhor. Talvez inspirado pelas estórias Vincianas, desde de pequeno, já construía aviõezinhos e desenhava balões de gás dirigíveis que ganhavam o mundo em seus sonhos infantis.

Os mecanismos, seja na delicadeza da máquina de costura de mamãe ou na robustez das locomotivas e das máquinas de beneficiar café de papai, sempre o fascinaram, o atraíram. Passou sua juventude arrumando ou ajustando essas maravilhosas jeringonças. Perdia noites de sono para resolver os problemas que se apresentavam nas transmissões das polias e nas engrenagens a vapor.

O interesse e performance pela eletricidade mecanica foram reconhecidos e o garoto foi enviado a Paris, França, terra de seus avós paternos, onde começou a estudar ciência mecânica e Física. Paris vivia uma época de ouro com o aparecimento da fotografia e também dos primeiros filmes, dos irmãos Lumières, de que se tem registro na história.

Aliás,. foi nessa época que o jovem brejeiro e carregado de mineirices fez muitas amizades, dentre elas um amigo cheio de nove horas, desculpando o trocadilho, petit Louis (Louis Cartier), burguês que adorava atacar de inventor, falta do fazer, uma vez que era nascido em berço de ouro.

Bertinho sempre envolvido com seus estudos aeronáuticos, quando na parte pratica de seus experimentos percebeu que se tornara escravo de seu relógio de bolso e para otimizar seu uso, pediu ao amigo que soldasse duas hastes para passar um lenço e fixá-lo no pulso e desta forma controlar melhor o tempo de vôo. E todos sabem no que resultou esse idéia. Foi dele também a invenção dos deslizadores para aviões aterrissarem nas águas, porta de correr dos hangares, dirigíveis e o precursor do ultraleve, criado depois do lendário 14 Bis.

Aos 25 anos, dá uma volta olímpica em torno da Torre Eiffel em 1901 com seu primeiro dirigivel. Foram 30 minutos de pura emoção e consagração, não esquecendo que já tinha voado uns anos antes com um balão pelos céus de Paris. Mas ele sempre queria mais, queria asas, como sua imaginação. Em 1906, a façanha, levantar vôo com aparelho mais pesado que o ar e sem auxilio de balões. O 14 Bis ganha o Campo de Bagatelle, voando a mais de dois metros de altura por mais de 60 metros deixando uma multidão em êxtase diante do feito histórico. Tempos depois, construiu o Demoiselle, o primeiro ultraleve da historia, mais rápido que o 14 Bis e mais leve, tinha 115 Kg, envergadura de 5,50m e comprimento de 5,55m.

Bertinho, após conquistar fama e prestigio na Europa, retorna ao Brasil. Atendendo a um pedido de Belinha (Princesa Isabel), sua grande amiga e uma das figuras mais importantes do pais naquela época vai passar uns tempos em Petropolis, Rio de Janeiro. Apaixona-se pelo lugar e resolve construir uma casinha no alto do morro que em pouco tempo de tornou atração do local. A casinha com três andares era um charme, além de contar com um observatório no telhado, ter um charmoso e eficiente chuveiro de água quente, aliás o único da época, talvez trauma da França onde o povo usa água somente pra beber. Para adentrar ao local uma escada externa só pode ser subida com a perna direita e a interna só com a esquerda. Também a casa não possuía divisórias de cômodos.

Bertinho até tinha planos de construir uma engenhoca e alçar vôos mais altos por estas imensas terras varonis, mas aqui faltava tudo desde material apropriado até vontade dos governantes. De volta a França, já na época da guerra, foi confundido com espião alemão, apavorado queima seus pápeis e anotações pessoais. Antes de voltar ao Brasil, passa elo EUA, Chile e Argentina. 

Na década de vinte, Bertinho que sofria de esclerose múltipla, passava por grande depressão. Resolveu internar-se em um sanatório na Suiça para se tratar. Dois anos mais tarde, volta ao nosso pais. Ao perceber o mau uso de seu invento e debilitado pela doença que se agravava cada vez mais, Bertinho não estava bem. Seus amigos da Escola Politécnica do Rio resolveram prestar-lhe uma homenagem que acabou na maior patacoada, se fosse hoje, seria mico. Sabendo que ele desembarcaria na Baia da Guanabara do navio Arcona, seus maiores amigos fretaram um avião que lançaria pétalas de flores sobre o barco, mas a brincadeira terminou em tragédia e o avião caiu no mar matando a todos. Daí a coisa azedou para lado do Pai da Aviação que se sentiu culpado de ter inventado uma máquina de matar. Ele ainda disse: “Eu inventei a desgraça do mundo.”

Desgostoso com tudo, debilitado, resolveu a última equação lógica de sua vida. Em uma de suas visitas ao Jornal Estado de São Paulo, foi aconselhado a passar uns meses em Guarujá e curtir as praias. Nessa época a Revolução Constitucionalista estava a todo vapor e os aviões se transformaram em eficientes máquinas de guerra. Lá no litoral paulista, duas gravatas se incumbiram de carimbar o passaporte na viagem de Alberto Santos Dumont, para o andar de cima. A humanidade sofreu uma de suas maiores perdas com o último voo do gênio Bertinho.

                  Roquemberg Duarte

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E... Sem pedir ou dar gravatas!!!!!

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