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República do Baseado!
Vou tentar resumir em poucas palavras a verdadeira estória da “Guerra dos Canudos”.
Primeiramente não se trata de nenhum desentendimento entre estudantes secundaristas ou mesmo universitário em festa de formatura, apenas uma pequena estória que (se) não foi registrada pelos anais de nossa história, no mínimo foi omitida... ou por interesses escusos da época ou por alguém mal intencionado, cheio de segundas e terceiras intenções, mas, vamos aos fatos, verídicos e endossados por fontes altamente confiáveis.
O total descaso político, aliado a miséria absoluta, fez o sertão nordestino parir de suas mais tenras entranhas, isso no final do século XIX, em suas séquidas caatingas e sob a testemunha de um casal gay de carcarás, um notável movimento messianico. Na verdade era pra ser uma cube natureba de Chá Oaska, mas pelo que se pode apurar, prevaleceram apenas duas versões: a primeira é que o suprimento de raízes se perdeu pelo meio do caminho. Na segunda hipótese, elas, na realidade foram tomadas na forma de chás durante as longas reuniões do grupo e das quais chegaram a participar alguns membros da realeza britanica a quem coube os canapés a base de pães, pepinos e biscoitinhos.
Antonio Conselheiro, que dava tudo, menos conselhos, era conhecido intimamente entre os participantes e ativistas como Tonhão das Charoletas, uma vez que era mais prevenido que Fidel Castro com seus charutos. Curtia um baseado sentido e adorava fazer muita fumaça queimando mato. Vivia sempre num grande barato e numa destas viagens, depois de trocar altas idéias com Zoroastro e Zeus, resolveu fazer uma grande viagem de negócio, ia ganhar uma boa grana em Woodstock vendendo baseado e outros ácidos pra rapaziada, a maioria amigos do impagável e temperamental Bob Marley com quem um mês antes discutira asperamente até acertar a percentagem sobre as vendas por lá. E tinha pra todos os gostos: Ketamina, lança-perfume, heroína, Ecstasy (MDMA), poppers, mescalina, oxi, meta-anfitamina, LSD e GHB (ecstasy liquido), opium... putz.
Com uns baseados a mais pela cachola e muito ácido nas veias, o futuro pseudo-milionário acabou se perdendo, vindo parar no interior do Nordeste. Acordou com terrível dor de cabeça, às margens do Rio Vaza Barris e com uma porrada de gente que jurou de pés juntos nunca ter visto antes. Bastaram cinco minutos de troca de idéias e ele resolveu fundar uma comuna alternativa onde seus seguidores viviam somente na base dos baseados, nem sei baseado em que?
Antenado nas coisas que rolavam na época e sabedor do surgimento dos tempos republicanos, Tonhão da Charoleta fundou em nosso país tupiniquim a “República do Baseado”, mas de olho no PIB do LSD e do ópium de excelente qualidade, presente de Mao Tse Tung, seu grande amigo de infancia de outras paragens. Aliás, Mao ganhou todo um carregamento de Gengis Khan, um dos piores guerreiros de todos os tempos, por guardar seu segredo. Ele descobriu que Khan adorava passar horas e mais horas defronte a um espelho, alisando suas longas madeixas, dormir de chuquinhas e baby-doll pink. Bem, mas esta é outra estória que merece ser contada em outra ocasião.
Apesar dos conselhos do outro amigo, Ghandi, e entre uma viagem e outra pelas nuvens de fumaça, resolveu que venderia toda a produção de suas “plantações” para os americanos do norte, abastados e dolarizados.
Mas acoisa realmente começou a feder em Canudos, porque um grupo metido a “soldados republicanos” resolveu interceptar o primeiro carregamento da comuna, a primeira produção. Depois do confronto, a turma comunicou Tonhão sobre o acontecido: Caro beato, nossos companheiros chamados erroneamente de “jagunços” acabaram, no ápice da nóia, exagerando no conflito e despacharam “meia dúzia” de cabras da peste fantasiados de escoteiros para o andar de cima. Talvez, devido às condições psicológicas, não se deram conta que na realidade. Mais de cem soldados tinham passado para lado de lá, conforme se apurou posteriormente. Bem, a merda já estava feita e o mais engraçado e que ninguém conseguiu explicar até agora o desaparecimento de toda aquela marijuana, pivô do confronto. Uns poucos ouvidos chegaram a garantir que o tal de carregamento na verdade nunca existiu.
Encravada no sertão baiano, a República do Baseado conseguia tirar de letras toda a precariedade do local, onde a fome, as privações da seca, da miséria eram amenizadas pelos discursos apológicos de Tonhão e seus seguidores que também recorriam às grandes queimadas de mato pra enfrentar as adversidades da realidade que num passe de mágica se transformavam literalmente no maior barato.
Mesmo com sérias dúvidas perante o “Homem” e longe de ser um filho exemplar, Tonhão da Charoleta achou melhor evocar a Deus. Tinha consciência de que precisava de um aliado de peso pra amenizar as merdas que alguns malas da comuna que se distanciaram de seus “ensinamentos” (?) começaram a fazer. Aprontaram coisas federais e crimes capitais, mandando às favas, as diretrizes do movimento Paz e Amor e muito Ácido.
Com os problemas até no meio do sertão, o governo da Bahia, pra desviar o foco, resolveu politicamente limpar os penicos que estavam transbordando. Do dia pra noite a comuna se viu toda cercada e o glamour utópico-ufanista da República do Baseado estava com os dias contados. Muitos estimulados pela fumaça revolucionária lutaram ate os últimos segundos de vida, outros mais zens, resolveram fazer greve de fome, no enfrentamento insano contra as arretadas tropas baianas, sob a bandeira republicana, que tinham aval federal pra acabar com toda a bandalheira. E não colou greve de fome contra o cerceamento da liberdade, o que se viu foi uma baianada frenética, como numa vaquejada, partindo pra cima sem dó, arrepiando todo mundo do pedaço, e dançou os caras, as mulheres, os velhos e até as crianças, um verdadeiro massacre. E toda cena transcorreu sob os olhares indignados de Tonhão que foi o último a entrar no pau, depois de puxar uma enorme charoleta que parecia um charuto à La Fidel. Foi uma luta desigual. Antes de sucumbir, foi ao chão invocando a ajuda de Dom Quixote de La Mancha, Sancho Pança e quem mais tivesse a fim de ajudá-lo nesta empreitada ionesca. Antes de perder a toalha, ainda teve tempo de mirar o horizonte e avistou uma figura magrela de movimentos lépidos de vasto e acariciados bigodes. Estava acompanhado de um lambe-lambe, devidamente equipado, que esforcava-se em permanecer em pé pelas irregularidades dos estorricados morros e desviando sem sucesso dos impiedosos espinhos de cactos, mandacarus, xique-xiques e demais arranha-gatos do duro sertão. Porra... mas aquele era seu amigo de noitadas, o engenheiro loroteiro Euclides da Cunha, que conservava a mania de escrever as mais estapafúrdias fantasias. Mas o poeirão da batalha foi maior que cobriu ate seus pensamentos e conjecturas, e tudo desapareceu de sua torpe mente. Era o fim!
Bem, depois do pega pra capar, a poeira baixou, as viúvas pararam de chorar e o sonho da República do Baseado literalmente virou pó, com perdão do trocadilho.
Tonhão da Charoleta morreu! Morreu???? Como que um cara de notáveis relacionamentos poderia ter este fim? As estórias são muitas, principalmente de amigos mais chegados e dão conta que ele está vivendo em Orlando, sul da Flórida, EUA. Casou-se com uma mareíta (cubana), cortou os cabelos e a enorme barba, se tornou careta, não bebe e não fuma mais... nem baseados, e adora contar suas aventuras e proezas para o Mickey, a Minie e o Pateta, o único que o leva a sério. Corre a boca pequena, que Tonhão só escapou da fúria da baianada, depois de se fingir de morto. Depois do quiprocó, seu “corpo” foi levado em companhia dos demais pra Salvador, mas foi resgatado por uma quadrilha de chineses comunados com alguns afegães que o ajudaram em sua nova vida, longe da caatinga e dos vícios terrenos. E notícias recentes indicam que Tonhão vem alimentando outro sonho: está prestes a se tornar um empreendedor de destaque nas montanhas do Paquistão ou colecionar pedrinhas na África do Sul!
Roquemberg Duarte – Jornalista e Escritor
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