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Até quando?
O futebol brasileiro vive um momento de pseudo-euforia onde a moda é repatriar craques que estão em final de carreira e que vem pra terminar seus dias de glória por estas paragens. Uma parte dos torcedores brasileiros defende que o problema é que esses atletas repatriados recebem salários milionários de nossos endividados clubes tupiniquins. Só pra refrescar a memória dos menos avisados, a quase totalidade dos times deve quantias astronômicas ao INSS e os processos trabalhistas se amontoam pelos quatro cantos de nosso país. Hoje, mesmo por determinação judicial, não se consegue receber o valor de direito. Hoje os clubes estão falidos, o nosso futebol está falido, enfim o sistema está falido.
Outros torcedores vem esta oportunidade como investimento inteligente, uma sacada de marketing das grandes times na volta de grandes atletas. O investimento pode ser alto, mas o retorno do clube em matéria de marketing é geralmente três vezes maior, sem contar que a marca atrelada a um craque, depois de sua passagem pela agremiação ainda perdura, comercialmente falando, pelo período de quase dez anos. Ou seja, o faturamento de uma empresa do futebol aumenta consideravelmente.
No reverso da moeda, o governo federal criou uma loteria com a intenção de ajudar financeiramente os clubes, mas para poder participar os clubes teriam de ajustar contas com o fisco ou entrar em um programa de parcelamento de dívidas... Resultado: Hoje não se houve mais falar desta fadada Time mania, pois a maioria dos times não está participando.
Se não bastasse o quadro de caos, o descaso com o esporte mais apaixonante do brasileiro, Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou a intenção de criar mais um campeonato brasileiro, o da série “D”. Qualquer torcedor está cansado de saber que os nossos campeonatos são altamente deficitários devido à desorganização que permeia o setor, além da adoção de um calendário inchado e com várias de disputas paralelas, um total desrespeito para com o torcedor, que além das acomodações ridículas e sem conforto algum nos estádios onde freqüenta, fica sujeito a horários absurdos das partidas de seu clube do coração porque emissora “A”, detentora dos direitos exclusivos de transmissão privilegia somente sua grade de programação mandando o torcedor às favas, sujeito aos mais mirabolantes e revoltantes horários. Por outro lado, entra ano e sai ano, os jogadores profissionais são premiados com as merecidas férias, um direito trabalhista, reduzidas a pouquíssimos dias de descanso, fator que pode estar relacionado a um aumento significativo de lesões causadas por estresse muscular e ósseo.
Consequentemente o torcedor vem se afastando cada vez mais dos estádios devido aos preços coercivos dos ingressos, ao nível dos espetáculos e por causa da violência crescente, onde uma horda fanática que se utiliza das cores do time para orquestrar o terrorismo. Outro fator que corrobora com a debandada dos estádios são os times de futebol cada vez mais reféns das federações. A maioria espera de chapéu nas mãos a insignificante cota a que tem direito, verdadeira esmolas que geralmente são insuficientes pra cobrir os gastos básicos de um time na disputa de uma competição. No caso do futebol de São Paulo, os clubes considerados grandes recebem uma polpuda quantia para disputar a competição, enquanto que os times do interior recebem uma ajuda ínfima e humilhante. Com dinheiro em caixa contrata-se jogadores de nível, paga-se bons salários e torna o elenco atrativo além de competitivo. Sem dinheiro os clubes do interior não passam de meros coadjuvantes num dos campeonatos mais difíceis e disputado de todo o mundo. Sem ter a quem recorrer, os clubes pequenos abrem suas portas a empresários que usam esses clubes como vitrine, expondo seus jogadores, esperando conseguir um bom contrato com um time grande ou uma boa transação com o futebol do exterior. Com a vigência deste processo, os jogadores não criam identidade com o clube que defende por ora, e assim sendo a cada final de campeonato, praticamente todo o elenco vai embora, uns por deficiência técnica outros por conseguir se destacar, garantindo transferências e salários melhores em outros times. Outro reflexo verificado neste sistema é o descomprometimento que o atleta tem para com o clube que ora defende. Esses jogadores “estrangeiros” se limitam a cumprir seus contratos. Com isso aquele velho amor à camisa de outrora simplesmente desapareceu, passou a ser lenda. Amor ao clube e à suas cores brota somente do apaixonado coração do torcedor que autenticamente ri e chora de emoção conforme a desempenho de sua agremiação. Mudanças na Lei Pelé, dando mais autonomia aos clubes na formação de novos atletas se faz mais que urgente e necessária, limitando as ações de empresários e suas investidas muitas vezes predatórias à saúde financeira de um time.
E devido à ausência de um esquema profissional de gestão e administração, os nossos campeonatos se tornaram altamente deficitários, se tornando um campo propício para a proliferação de acordos com as TVs que compram os campeonatos e remanejam os horários das partidas conforme sua necessidade e desejo. É preciso acabar com a exclusividade nas transmissões abrindo para todos os canais interessados, sejam pagos ou abertos. O torcedor tem o direito de escolher qual jogo irá ver, pura questão de respeito.
Roquemberg Duarte é Jornalista, Radialista e Escritor
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